8 de abril de 2007

do regresso





quebraram-se-me as asas

(como uma promessa)

anoiteceste-me, escureceste-me a voz

o corpo invertido num grito seco

mortos os olhos

(o sabor a terra a ranger nos dentes)

desencanto lento como um andar

fixo-me ao interior da tela

agito-me

magoo-me

magoo-te

(e nem assim)

uma folha cardo na boca

um silêncio ecoa no estalar da alma

no quebranto

(e no turbilhão aceso da voz de ontem)

rumei ao mar exílio

(os pés incendiados)

descolo-me da tela que nada

(e não me paras)

sigo pelo interior da viagem

(que afinal não cura a melancolia)

mas é apenas sombra

(algum dia me viste olhar-te?)

a mão que toca o cadeado

e um precipício

(sem princípio nenhum)

sem caminho a escolher

(porque destruído)

(foste lá sem mim? que fizeste que nem te deste conta?)

estala a madeira debaixo do meu pouco peso

o vestígio da salsugem

que se forma nos olhos

parte-se a madeira

(quebra-se o vínculo que até perguntas se alguma vez existiu)

tropeço

um pé descalço a nudez toda

(ainda em ti)

a fugir no que restou depois do silêncio

não mais âncora porque em terra vazia

mergulho então

cedo ao puxar do mar

(respiro)

não me toques agora

ergo-me paro recolho-me

regresso

estou aqui ouve-me

deixa-me abraçar-te neste segundo em que a maré ainda me tem

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