quebraram-se-me as asas
(como uma promessa)
anoiteceste-me, escureceste-me a voz
o corpo invertido num grito seco
mortos os olhos
(o sabor a terra a ranger nos dentes)
desencanto lento como um andar
fixo-me ao interior da tela
agito-me
magoo-me
magoo-te
(e nem assim)
uma folha cardo na boca
um silêncio ecoa no estalar da alma
no quebranto
(e no turbilhão aceso da voz de ontem)
rumei ao mar exílio
(os pés incendiados)
descolo-me da tela que nada
(e não me paras)
sigo pelo interior da viagem
(que afinal não cura a melancolia)
mas é apenas sombra
(algum dia me viste olhar-te?)
a mão que toca o cadeado
e um precipício
(sem princípio nenhum)
sem caminho a escolher
(porque destruído)
(foste lá sem mim? que fizeste que nem te deste conta?)
estala a madeira debaixo do meu pouco peso
o vestígio da salsugem
que se forma nos olhos
parte-se a madeira
(quebra-se o vínculo que até perguntas se alguma vez existiu)
tropeço
um pé descalço a nudez toda
(ainda em ti)
a fugir no que restou depois do silêncio
não mais âncora porque em terra vazia
mergulho então
cedo ao puxar do mar
(respiro)
não me toques agora
ergo-me paro recolho-me
regresso
estou aqui ouve-me
deixa-me abraçar-te neste segundo em que a maré ainda me tem
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