25 de abril de 2007

23 de abril de 2007

longe ainda. de longe.




"Ao longe por mim oiço chamando

A voz das coisas que eu sei amar."

.

Sophia de Mello Breyner Andresen

...

e chamo a luz a cada poro de pele.

12 de abril de 2007

e digo tanto...





Vou dizendo
Certas coisas
Vou sabendo
Certas outras
São verdades
Amizades
Aventuras
Quem alcança
Mora longe
Da mudança
Do seu nome
Alegria
Vã tristeza
Fantasia
Incerteza
São verdades
São procuras
Amizades
Aventuras
Quem avança
Guarda o amor
Guarda a esperança
Sem favor
Ainda
Ainda
Ainda
Ainda


(Letra e Música de Pedro Ayres Magalhães)

e eu guardo tudo.

tudo.

.

8 de abril de 2007

do regresso





quebraram-se-me as asas

(como uma promessa)

anoiteceste-me, escureceste-me a voz

o corpo invertido num grito seco

mortos os olhos

(o sabor a terra a ranger nos dentes)

desencanto lento como um andar

fixo-me ao interior da tela

agito-me

magoo-me

magoo-te

(e nem assim)

uma folha cardo na boca

um silêncio ecoa no estalar da alma

no quebranto

(e no turbilhão aceso da voz de ontem)

rumei ao mar exílio

(os pés incendiados)

descolo-me da tela que nada

(e não me paras)

sigo pelo interior da viagem

(que afinal não cura a melancolia)

mas é apenas sombra

(algum dia me viste olhar-te?)

a mão que toca o cadeado

e um precipício

(sem princípio nenhum)

sem caminho a escolher

(porque destruído)

(foste lá sem mim? que fizeste que nem te deste conta?)

estala a madeira debaixo do meu pouco peso

o vestígio da salsugem

que se forma nos olhos

parte-se a madeira

(quebra-se o vínculo que até perguntas se alguma vez existiu)

tropeço

um pé descalço a nudez toda

(ainda em ti)

a fugir no que restou depois do silêncio

não mais âncora porque em terra vazia

mergulho então

cedo ao puxar do mar

(respiro)

não me toques agora

ergo-me paro recolho-me

regresso

estou aqui ouve-me

deixa-me abraçar-te neste segundo em que a maré ainda me tem

(montei as imagens. mas, à excepção dos meus desenhos no fim, pertencem a:
desiree dolron, arthur k., anna palmer, helena almeida, krysztof falcman, mariana castro, marta laura, morel delfer, joe taruga e noronha da costa)
(música: song to the siren, cocteau twins)

3 de abril de 2007



(desenho inacabado, de há muitos anos,
na rápida espera de um metro,
ao olhar uma das esculturas do francisco simões
na estação do campo pequeno)

"Deixai-me limpo

O ar dos quartos

E liso

O branco das paredes

Deixai-me com as coisas

Fundadas no silêncio"

.

Sophia de Mello Breyner Andresen

...






"havia tomado convosco compromissos imprudentes que a vida viria a contestar: peço-vos perdão, o mais humildemente possível, não por vos deixar mas por ter ficado tanto tempo."




Marguerite Yourcenar










“É assim que um dia dizemos adeus, de muito longe, a alguém que nós fomos.”



Al Berto

e rumo ao mar.

.

(imagem: krsyztof falkner)

2 de abril de 2007

como uma âncora. eu.

(bjork anchor song - live in cambridge)

"The Anchor Song"

i live by the ocean
and during the night
i dive into it
down to the bottom
underneath all currents
and drop my anchor

and this is where i'm staying

this is my home



...

..

.

com todo o amor

"Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.

(...)"

Sophia de Mello Breyner Andresen

...

..

.

dou-te as minhas mãos para que toques no que dói

dou-te os meus braços para que não tropeces

dou-te o meu amor para o que quiseres.

sempre.

parabéns minha querida mana.


1 de abril de 2007





"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou
não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que todas as coisas
estremeciam só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."

Eugénio de Andrade

(imagem: rui effe)

(escultura: joão cutileiro)