12 de outubro de 2007

arruma-se a vida em sentires desordenados




e fazem-se malas como se fossem mentira.








(imagem: bogdan zvir)

2 comentários:

Anónimo disse...

" eu construí a casa.

fi-la primeiro de ar.
depois hasteei a bandeira
e deixei-a pendurada
no firmamento, na estrela,
na claridade e na escuridão.

cimento, ferro, vidro,
eram a fábula,
valiam mais que o trigo e como o ouro,
era preciso procurar e vender,
e assim chegou um camião:
desceram sacos
e mais sacos,
a torre agarrou-se à terra dura
- mas, não basta, disse o construtor,
falta cimento, vidro, ferro, portas -,
e nessa noite não dormi.

mas crescia,
cresciam as janelas
e com pouco,
com pegar no papel e trabalhar,
arremetendo-lhe com joelho e ombro
ia crescer até chegar a ser,
até poder olhar pela janela,
e parecia que com tanto saco
poderia ter tecto e subiria
e agarraria, por fim, a bandeira
que suspensa do céu agitava ainda as suas cores.

dediquei-me às portas mais baratas,
às que morreram
e tinham sido arrancadas de suas casas,
portas sem parede, rachadas,
amontoadas nas demolições,
portas já sem memória,
sem recordação de chave,
e disse: “vinde
a mim, portas perdidas:
dar-vos-ei casa e parede
e mão que bate,
oscilareis de novo abrindo a alma,
velareis o sono de matilde
com as vossas asas que voaram tanto.”

então a pintura
chegou também lambendo as paredes,
vestiu-as de azul-celeste e côr-de-rosa
para que se pusessem a bailar.
assim a torre baila,
cantam as escadas e as portas,
sobe a casa até tocar o mastro,
mas falta dinheiro:
faltam pregos,
faltam aldrabas, fechaduras, mármore.
contudo, a casa
vai subindo
e algo acontece, um latejo
circula nas suas artérias:
é talvez um serrote que navega
como um peixe na água dos sonhos
ou um martelo que pica
como um pérfido pica-pau
as tábuas do pinhal que pisaremos.

algo acontece e a vida continua.

a casa cresce e fala,
aguenta-se nos pés,
tem roupa pendurada num andaime,
e como pelo mar a primavera
nadando como ninfa marinha
beija a areia de valparaíso,

não pensemos mais: esta é a casa:

tudo o que lhe falta será azul,

agora só precisa de florir.

e isso é trabalho da primavera. "




(pablo neruda)

Anónimo disse...

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