"respiro o iodo o sal o vento
o cheiro a salsugem e penso que tudo não é senão o que já não é
e que o momento em que isto digo
é já outro momento"
(manuel alegre in "senhora das tempestades")
12 de outubro de 2007
arruma-se a vida em sentires desordenados
e fazem-se malas como se fossem mentira.
(imagem: bogdan zvir)
2 comentários:
Anónimo
disse...
" eu construí a casa.
fi-la primeiro de ar. depois hasteei a bandeira e deixei-a pendurada no firmamento, na estrela, na claridade e na escuridão.
cimento, ferro, vidro, eram a fábula, valiam mais que o trigo e como o ouro, era preciso procurar e vender, e assim chegou um camião: desceram sacos e mais sacos, a torre agarrou-se à terra dura - mas, não basta, disse o construtor, falta cimento, vidro, ferro, portas -, e nessa noite não dormi.
mas crescia, cresciam as janelas e com pouco, com pegar no papel e trabalhar, arremetendo-lhe com joelho e ombro ia crescer até chegar a ser, até poder olhar pela janela, e parecia que com tanto saco poderia ter tecto e subiria e agarraria, por fim, a bandeira que suspensa do céu agitava ainda as suas cores.
dediquei-me às portas mais baratas, às que morreram e tinham sido arrancadas de suas casas, portas sem parede, rachadas, amontoadas nas demolições, portas já sem memória, sem recordação de chave, e disse: “vinde a mim, portas perdidas: dar-vos-ei casa e parede e mão que bate, oscilareis de novo abrindo a alma, velareis o sono de matilde com as vossas asas que voaram tanto.”
então a pintura chegou também lambendo as paredes, vestiu-as de azul-celeste e côr-de-rosa para que se pusessem a bailar. assim a torre baila, cantam as escadas e as portas, sobe a casa até tocar o mastro, mas falta dinheiro: faltam pregos, faltam aldrabas, fechaduras, mármore. contudo, a casa vai subindo e algo acontece, um latejo circula nas suas artérias: é talvez um serrote que navega como um peixe na água dos sonhos ou um martelo que pica como um pérfido pica-pau as tábuas do pinhal que pisaremos.
algo acontece e a vida continua.
a casa cresce e fala, aguenta-se nos pés, tem roupa pendurada num andaime, e como pelo mar a primavera nadando como ninfa marinha beija a areia de valparaíso,
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
2 comentários:
" eu construí a casa.
fi-la primeiro de ar.
depois hasteei a bandeira
e deixei-a pendurada
no firmamento, na estrela,
na claridade e na escuridão.
cimento, ferro, vidro,
eram a fábula,
valiam mais que o trigo e como o ouro,
era preciso procurar e vender,
e assim chegou um camião:
desceram sacos
e mais sacos,
a torre agarrou-se à terra dura
- mas, não basta, disse o construtor,
falta cimento, vidro, ferro, portas -,
e nessa noite não dormi.
mas crescia,
cresciam as janelas
e com pouco,
com pegar no papel e trabalhar,
arremetendo-lhe com joelho e ombro
ia crescer até chegar a ser,
até poder olhar pela janela,
e parecia que com tanto saco
poderia ter tecto e subiria
e agarraria, por fim, a bandeira
que suspensa do céu agitava ainda as suas cores.
dediquei-me às portas mais baratas,
às que morreram
e tinham sido arrancadas de suas casas,
portas sem parede, rachadas,
amontoadas nas demolições,
portas já sem memória,
sem recordação de chave,
e disse: “vinde
a mim, portas perdidas:
dar-vos-ei casa e parede
e mão que bate,
oscilareis de novo abrindo a alma,
velareis o sono de matilde
com as vossas asas que voaram tanto.”
então a pintura
chegou também lambendo as paredes,
vestiu-as de azul-celeste e côr-de-rosa
para que se pusessem a bailar.
assim a torre baila,
cantam as escadas e as portas,
sobe a casa até tocar o mastro,
mas falta dinheiro:
faltam pregos,
faltam aldrabas, fechaduras, mármore.
contudo, a casa
vai subindo
e algo acontece, um latejo
circula nas suas artérias:
é talvez um serrote que navega
como um peixe na água dos sonhos
ou um martelo que pica
como um pérfido pica-pau
as tábuas do pinhal que pisaremos.
algo acontece e a vida continua.
a casa cresce e fala,
aguenta-se nos pés,
tem roupa pendurada num andaime,
e como pelo mar a primavera
nadando como ninfa marinha
beija a areia de valparaíso,
não pensemos mais: esta é a casa:
tudo o que lhe falta será azul,
agora só precisa de florir.
e isso é trabalho da primavera. "
(pablo neruda)
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
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